sábado, 10 de maio de 2008

AMALIA RODRIGUES

sexta-feira, 9 de maio de 2008

MARQUES VIDAL

0 LOCUTOR MARQUES VIDAL

Se o Marques Vidal utilizasse a habilidade de Orson Welles, que cobrava determinada quantia por cada palavra proferida ao microfone, teria de lhes relatar o que se passou ontem durante a ceia que o popular locutor do «Comboio das seis e meia» me ofereceu na sua vivenda "do Estoril, finda a qual ordenou a um dos seus motoristas que me transportasse a casa no Cadillac* de luxo, depois de me ter mostrado a sua riquíssima colecção de libras em ouro, espalhadas por todos os cantos da casa, que e ornamentada com originais quadros celebres, adquiridos nos grandes leiloes mundiais. Pois e isso mesmo: se por cada palavrinha o nosso herói cobrasse «X» era mais do que milionário 100 vezes, muito mais...
Vejamos a sua actividade actual: «Quatro igual a um», programa semanal de uma hora que se divide em quatro programas distintos; «Do céu caiu uma estrela», semanário de 15 minutos com a presença de Alheirinha Camargo; «Figurino Musical, um quarto de hora de boa musica, também de oito em oito dias; «Entrevista da Semana», rubrica exclusivamente dedicada as figuras conhecidas das letras e das artes; «0 artista da semana», o programa onde colaboraram as grandes atracções portuguesas: Amália Rodrigues, José António, Tony de Matos e as estrangeiras Helena de Torres, Juan Carlos Correria, Mary Merche, etc.
Todos estes trabalhos radiofónicos são escritos, produzidos, sonorizados e falados pelo locutor que esta na nossa capa de hoje. Hein! Se ele levasse «X» por cada palavrinha?...
Mas não fica por aqui. Marques Vidal e locutor efectivo do «Comboio das seis horas e trinta minutos», o único, cremos, que parte a tabela; desempenha o mesmo cargo no programa de João Nobre «Novidades em Disco» e, quando o Benfica joga «em casa», la esta ele a falar no campo, enquanto uns jogam e os outros deliram...
Presentemente e dos homens da rádio portuguesa que mantém maior numero de produções no ar e, como não ganha a palavra, e, também, exemplaríssimo funcionário dum escritório na «Baixa».
Se os leitores estão habituados a ler elogios quando se escreve sobre artistas, eu esclarecp ja que os nao faso, propositadamente.
6 tao incoerente fazer elogios a Mar­ques Vidal como dizer que Portugal fica na esquina da Europa ...
ROLO DUARTE

terça-feira, 6 de maio de 2008

ANA MOURA

HERMINIA SILVA




Herminia Silva é, sem duvida, uma das mais populares vedetas do nos-so teatro ligeiro, merce do cunho pessoalissimo das suas interpretações, da forma inimitavel como interpreter o fado e da sua simpatia pessoal, atributos que Ihe concederam lugar de relevo no teatro musicado.
Subiu por meritos próprios, sem atropelos nem partidarismos; conquistou as plateias rápidamente com os seus ditos de espirito e com a sua arte de comunicar com o publico; impos o seu nome, como artista de personalidade.
Os contratos para actuar no Brasil e nas nossas provincias ultramarinas vieram varias vezes ao seu encontro, alguns contratos vantajosos, mas Herminia a quem nao faltava em Portugal teatros para trabalhar, não quis nunca colocar sabre eles a sua assinatura.

Vieram agora novas insistencias e a popular artista reconheceu o interesse com que se pretendia apresensa no Brasil ao publico irmão e a colónia portuguesa, que conhece apenas Hermmia Silva de nome, mas que sabe bem dos exitos por ela alcansados nos nossos palcos.
O contrato era. vantajosissimo, dos mais importantes feitos a artistas nacionais, e sobre ele a popular Herminia colocou o seu nome, não sem uma leve emocão. Iria ao Rio de Janeiro e a S. Paulo e, finda a sua temporada em Terras de Sanfa Cruz, iria até Lourenco Marques cumprir outro contrato para quinze espétaculos
Assim, no dia 20 Herminia Silva embarcada no «Vera Cruz», a caminho do Rio, contratada pelo conhecido empresdrio brasileiro Walter Pinto, a quern nesfe negocio feafral esta tambem ligado Hosa Mafeus.
O Teafro fiecreio aguarda-a e o nome da vedeta da Companhia esfa colocado na fachada, de lado a lado, iiuma demonstragao pura do mteresse que Herminia estd suscifando no Brasil,
No elenco luso-brasileiro /iguram tormbem o bailarino Dorloff, Francisco Costa, o bailarino Charles e o seu «ballef», hoje ;a famoso.
A femporada sera de quafro meses, possiveJmenfe. tres no Rio e um em S. Paulo, a nao ser que o exito jusii/ique uma ampliacao do confrato o que ndo nos parece impossivel.
Por sua vez Herminia e esperada com impacfencia em Mozambique em cuj'a capital acfuard acompanhada, enfdo, pelcs seus guifarrisfas privafivos. A popular vedeta do nosso teatro ligeiro dese;'amos sinceramen fe os melliores exitos.
Boa viagem, Herminia!

quinta-feira, 1 de maio de 2008

AMÁLIA RODRIGUES


Triste semblante o de Amália. Triste e bonito. Olhos sonhadores, aveludados, negros, boca rasgada, cabelos naturalmente ondulados. Um ar pálido na face meiga. Triste semblante o de Amália. Triste e bonito.
Nasceu num dia de Julho — o primeiro, por sinal — e pelas ruas da velha Mouraria a alegria comunicativa dos festejos populares misturou-se com transbordar eufórico do mais simples e modesto casal da Rua Martim Vaz.
Errante e nómada como todos os artistas, o pai da pequenita Amália — musico de profissão — continuou percorrendo o Pais, acorrentado, agora, por fortes elos de paixão e amor a criança que Deus ofertara aquele lar humilde e pobre. E todos eram felizes.
Celeste veio ao Mundo no Fundão, bem junto a montanhosa al­titude da Serra da Estrela. Amália tinha então três anos, e, nesse dia, recebeu o melhor e mais terno presente da sua vida de mulher e artista.
Um dia o pai decidiu: iriam viver todos para Lisboa. Celeste pulou de contentamento, alegre, cheia de vivacidade. A irmã não quebrou um só traço fisionómico. Triste semblante o de Amália, mesmo criança. Triste e bonito.
Com a sua permanência na ca­pital do Império, talvez pelo contacto com as demais raparigas da sua idade, Amália começou decorando versos e melodias. E, a noitinha, quando o luar não terno espaço para afagar a rua, e as casinhas mal alinhadas das calçadas íngremes terna de se curvar a magia da noite, Amália senta-se junto a Janela, reclina um pouco o seu perfil delineado nos contornos da meia luz e canta. Canta com um sentimento nostálgico e estranho, como nostálgica e estranha é a sua alma sofredora.
Depois, veio a escola. A reprimenda da professora, o gesto aborrecido que transparece sem se querer, o instinto natural que ordena que cante, sempre a saudade avivando o semblante triste da mais bonita e triste das artistas portuguesas.
Ainda hoje Amália recorda os seus tempos. Lembra-se, por exemplo, duma tarde em que, sem razão, foi esbofeteada na escola. O choro convulsivo da criança foi tão profundo, tão magoado, tão extenso e copioso que a mestra